top of page

Das passarelas à COP30

Fashion Revolution Brasil expõe a urgência de incluir a segunda indústria mais poluente do planeta na principal conferência sobre mudanças climáticas.


ree

Todos os olhos para a Moda

Nas duas últimas semanas (10 a 21/11), vivemos a COP30 em Belém do Pará, tendo o peso de ser a primeira COP realizada na Amazônia.


Mas, NahReal, o que é COP?


A COP30 é a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima: um encontro global realizado anualmente, onde líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil discutem ações para combater as mudanças climáticas.


É importante destacar que a indústria da moda é a segunda que mais polui o planeta. De acordo com levantamento da Global Fashion Agenda, o setor fica atrás apenas da indústria petrolífera. Assustou? Nós também.

É por isso que convidamos Andressa Amorine, fashionista, stylist e cientista política (Concordia University - Montreal, Canadá), para falar NahReal sobre a moda como um agente de transformação social, política e ambiental.


Moda como movimento

Moda vai além do vestuário: ela é cultura, memória e pode assumir um papel político quando usada com intenção. Ao dialogar com biomas, saberes indígenas e técnicas artesanais, transforma-se em ferramenta de denúncia e sensibilização, conectando ciência e percepção social por meio de narrativas visuais que impulsionam ações reais.


A COP30 nos lembrou o quão urgente é repensarmos a moda, buscando a cada dia mais por iniciativas sustentáveis. Eu confesso que, mesmo tendo atuado como Sustainability Ambassador (estudante representante das questões de sustentabilidade), após me formar, mergulhei de cabeça no mundo das artes e, de certa forma, ignorei a crise climática.


Design de Kamila Ferreira - LFW
Design de Kamila Ferreira - LFW

No entanto, em fevereiro deste ano, durante a Semana de Moda de Londres, um desfile mudou a minha percepção: Kamila Ferreira.


Ao homenagear a Amazônia em diversas peças de sua coleção, a estudante de design e estilista natural de Belém do Pará, reacendeu a minha consciência global. Ali, eu entendi que temas como brasilidade estavam ressurgindo no âmbito internacional e, com a proximidade da COP30, o Brasil voltaria ao centro do cenário mundial em 2025 — com impactos que provavelmente sentiremos ainda mais fortemente no final desta década.


Revolução Fashion

E “Se a moda é parte da crise, também deve ser parte da solução”, como reforça o Fashion Revolution Brasil — movimento global, registrado no país como uma organização da sociedade civil, que atua para transformar a moda em direção à justiça social e climática.


“Se a moda é parte da crise, também deve ser parte da solução” - Fashion Revolution Brasil

A organização fez parte da COP30, defendendo a inclusão do setor na agenda de debates, além de pontuar iniciativas de moda sustentável e regenerativa.


Equipe Fashion Revolution Brasil - COP30
Equipe Fashion Revolution Brasil - COP30

Afinal, do cultivo de algodão à produção de couro, do transporte ao descarte, dos processos industriais até à comunicação: moda impacta. Além de influenciar comportamentos de consumo, emprega e toca diretamente os biomas que regem nosso equilíbrio climático. Portanto, seu papel nas discussões ambientais não pode mais ser negligenciado.


Dentre os tópicos abordados pelo Fashion Revolution Brasil, destaco:


• Promover uma transição justa para quem trabalha na moda


A mudança no setor da moda deve começar ouvindo aqueles que mais sofrem os efeitos da crise: os trabalhadores das fábricas, ateliês e comunidades extrativistas. A campanha #ModaPeloClima, do Fashion Revolution Brasil, defende a implementação de políticas objetivas voltadas à adaptação, capacitação e reintegração profissional. A iniciativa busca assegurar condições de trabalho estáveis, participação sindical, compensações adequadas e segurança para que seja possível investir em uma transição ambiental mais responsável.


• Transparência Climática no Setor da Moda


Toda transformação genuína começa com informação: é essencial compreender a origem dos materiais, o nível de emissões e as condições de trabalho envolvidas na produção.


O Índice de Transparência da Moda – Edição Clima, realizado pela organização, ainda aponta que a transparência no setor é extremamente limitada: entre 60 marcas analisadas, a pontuação média foi de apenas 24%. Esse resultado evidencia a necessidade urgente de relatórios públicos, auditorias e compromissos concretos para que a indústria da moda assuma responsabilidades e avance rumo à justiça climática.


ree

Mas como a moda pode enfrentar a crise climática?


Enfrentar a crise climática requer ações coordenadas em diversas áreas ao mesmo tempo:


  • Diminuir as emissões por meio de um design circular, uso de matérias-primas sustentáveis e melhoria na eficiência logística.

  • Fortalecer cadeias produtivas locais e valorizar comunidades extrativistas e artesanais.

  • Incentivar políticas públicas que promovam práticas regenerativas.

  • Garantir espaço e protagonismo para a moda de impacto em debates e fóruns climáticos, assegurando que as decisões considerem tanto a cultura quanto a economia do setor.


Entre a alienação criativa e a urgência planetária


Iniciei o texto falando como durante um tempo eu me permiti mergulhar apenas no universo criativo das artes e da moda, afastando-me das discussões políticas e ambientais — um movimento que reflete o comportamento de muitos de nós, profissionais e cidadãos. Assim como eu, frequentemente nos deixamos absorver pela rotina, pela estética e pela inovação criativa, enquanto um incêndio silencioso avança sobre nossos biomas e comunidades.


Observar a pauta moda sendo levantada na COP30 é um despertar potente que nos relembra que não podemos mais dissociar criação de consciência, nem beleza de responsabilidade: o futuro exige que a moda seja tão politicamente ativa quanto artisticamente relevante.


Ficou evidente que, se a moda é parte da crise, ela também deve ser parte da solução — articulando justiça climática, transição justa para trabalhadores, valorização territorial e cultural, transparência e preservação de biomas como a Amazônia e o Cerrado.


A partir daqui, a moda deixa de ser apenas espelho do tempo e passa a ser ferramenta de mudança. O chamado está feito: transformar não só o que vestimos, mas a forma como produzimos, consumimos e existimos.


ree

Por: Andressa Amorine, stylist e multiartista. Formada em Ciências Políticas, encontrou nas artes e na moda seu verdadeiro espaço de expressão. Hoje, busca unir todo o seu conhecimento para desenvolver um trabalho que interpreta o mundo com sensibilidade, propósito e liberdade.

 
 
 

2 comentários


Excelente abordagem!


Adorei como o texto conecta moda, sustentabilidade e estilo pessoal.


Obrigada por trazer essa reflexão!

Curtir

Excelente matéria!! Pensar a moda além da estética, mas também com olhar cuidadoso quanto à linha de produção, consumo e descarte, é fundamental! Muito interessante esse artigo!

Curtir
bottom of page